Alcoolismo: entenda esse transtorno crônico e hereditário
Saúde e Bem-Estar
29 de Dezembro de 2020
Alcoolismo: entenda esse transtorno crônico e hereditário
Saúde e Bem-Estar -
Assim como o diabetes ou hipertensão arterial, o alcoolismo é uma doença sem cura e o tratamento não depende somente da “força de vontade”. Segundo o gerente médico e psiquiatra do Grupo NotreDame Intermédica, Hercílio Oliveira Jr, cerca de 60% dos casos de alcoolismo vêm de um fator genético e hereditário, ou seja, pessoas com parentes próximos alcóolatras têm mais chances de desenvolver o alcoolismo do que quem não tem esse histórico familiar.
Sim! Embora ainda haja um preconceito muito forte contra dependentes químicos, é importante ressaltar que, assim como alguém que tem depressão ou câncer, esses pacientes não escolhem ficar doentes: eles têm forte influência genética, cultural, ambiental e até alguns gatilhos durante a vida que os tornam dependentes dessa válvula de escape tão prejudicial.
Com o tempo, o paciente começa a ter perdas na qualidade de vida, no âmbito pessoal e no profissional. É muito comum haver desentendimentos familiares e brigas com pessoas próximas durante os momentos de embriaguez, além de alterações no fígado e em outros órgãos, quando o quadro está muito avançado. “Essa pessoa também começa a chegar atrasada ao trabalho, bebe durante o expediente e pode até esconder bebida entre os pertences para beber durante o dia”, conta o psiquiatra.
Não é preciso beber todos os dias para ser considerado alcóolatra, mas, quando isso acontece, a doença já está bem avançada. “Existem subtipos da doença: alguém também pode ser classificado como alcóolatra quando bebe cerca de três vezes por semana, mas perde o controle e bebe em grande quantidade. São padrões diferentes, beber todos os dias é preocupante, mas beber em menos dias, mas pesado, também é”, explica Dr. Hercílio.
Existem alguns fenômenos que tornam o hábito de beber preocupante, como a tolerância ao álcool, em que pessoa passa a beber cada vez mais ao longo da vida. A abstinência, quando o corpo está tão acostumado com a substância que não funciona sem ela e começa a apresentar sintomas físicos, como tremores, sudorese e insônia, e sintomas psíquicos – irritabilidade e ansiedade. Há ainda o chamado “estreitamento de repertório”, quando a pessoa faz tudo motivada pela bebida: “Se não tiver bebida em uma festa, essa pessoa não vai, porque nada interessa se não tiver álcool”.
Já tentou reduzir o consumo do álcool ao longo da vida alguma vez? Já se sentiu culpado por beber demais ou perder o controle? O álcool gera aborrecimento ou preocupação? Você acaba negligenciando outras coisas por conta da bebida? Se você respondeu sim a essas perguntas, possivelmente você tem o transtorno do álcool. “Quem já teve essa preocupação, configura que já tem um problema”.
Outra característica muito comum é o período do dia em que se bebe. “A prevalência de alcoolismo em pessoas que bebem de manhã é maior, pois há um padrão de começar o dia bêbado, porque está de abstinência, já que dormiu e ficou sem beber à noite”.
“Cada vez sabemos mais sobre a hereditariedade do alcoolismo. Existe uma concepção hoje de que 60% dos casos de alcoolismo são associados a um componente genético importante”, explica o especialista. Quem tem alcóolatras na família precisa tomar cuidado com o hábito de beber para não desenvolver o transtorno. “É um padrão genético bem complexo. Não é um único gene, mas existe uma predisposição: filhos de pessoas com alcoolismo tem um risco muito maior”, completa.
Além do fator genético, tem um fator ambiental: algumas famílias têm a presença do álcool em tradições e no dia a dia. Até um tempo atrás, era comum que os pais oferecessem vinho diluído com água ou champanhe em datas comemorativas para crianças e adolescentes – hoje isso é estritamente proibido.
Existem ainda fatores culturais. Por exemplo, em países islâmicos, o consumo do álcool é muito malvisto e as pessoas não costumam beber, então não há tantos casos de alcoolismo. “Quanto maior a disponibilidade de certa substância, maior a propensão de que o indivíduo desenvolva a dependência dessa droga”, explica.
“Em alguns casos mais leves, é possível parar de beber sozinho; mas em casos mais graves – em que há tolerância, abstinência, estreitamento de repertório – dificilmente a pessoa vai conseguir parar sem acompanhamento médico”, conta Dr. Hercílio. Isso principalmente por conta da abstinência, que pode chegar em níveis muito graves e apresentar alterações como delirium tremens – alteração do nível de consciência e desorientação –, acabar em coma ou até morte. Durante a abstinência, o paciente pode também procurar bebida para acabar com os efeitos colaterais.
Mas, em que o acompanhamento médico pode ajudar neste momento? Além de proporcionar uma segurança maior com equipe especializada, o paciente terá também medicamentos que o ajudarão a passar por esta fase mais aguda de desintoxicação. Depois, vem a fase de estabilização e manutenção. “O alcoolismo é considerado um transtorno crônico, assim como o diabetes ou a hipertensão arterial. Existem medicamentos e terapias que ajudam a passar por isso, mas o paciente terá um acompanhamento contínuo para o resto da vida”, conta.
“Um mito que circula muito é que para deixar o alcoolismo é só ‘força de vontade’ ou que é ‘criar vergonha na cara’ e só parar de beber. É importante entender que essa pessoa tem um transtorno que supera a capacidade de só parar de beber. Claro, ela precisa estar motivada, tem que querer, mas só a motivação não basta”, explica o especialista. Ele conta que existe a necessidade do tratamento medicamentoso e de psicoterapia, que pode ser a linha “prevenção da recaída” ou “entrevista motivacional”, a partir das quais o paciente desenvolve estratégias para lidar com o risco de voltar a beber.
O tratamento é multidisciplinar e conta com diversos especialistas para ajudar o paciente de forma integral, já que, além de prejudicar a vida social e profissional, o transtorno pode causar doenças degenerativas, cardiovasculares e alguns tipos de câncer. Para manter a motivação do paciente, um componente social, como o apoio da família, é imprescindível.
É aí que entra o Alcóolatras Anônimos, ou AA, um grupo de apoio em que pessoas podem compartilhar experiências e dividir conquistas e dificuldades no processo de parar de beber. “Basicamente, o modelo é fundamentado no suporte que um individuo em transtorno do álcool pode dar para o outro. Eles se reúnem periodicamente, de forma anônima, na qual a identidade não importa, e no encontro cada um expõe um pouco da história e perdas ao longo da vida com o alcoolismo”.
O especialista conta que esse grupo de mútua ajuda é muito eficiente na luta contra o alcoolismo. Assim que alguém se integra, é acolhido em um processo de apadrinhamento, ou seja, alguém mais experiente dentro desse grupo fica responsável por ajudar o novo integrante. Também existe um processo de 12 passos de recuperação. “Quanto mais suporte nós temos, melhor!”, finaliza o especialista.
Fonte: Grupo NotreDame Intermédica com a colaboração do gerente médico, Dr. Hercílio Pereira de Oliveira Junior.
Responsável pelo Conteúdo:
Dr. Rodolfo Pires de Albuquerque
CRM: 40.137
Diretor Médico do Grupo NotreDame Intermédica
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